Em busca de ascensão na carreira, deixei Paim Filho, minha terra natal, em Janeiro de 1997, após 33 anos de intensa atividade comunitária.
O destino me agradava, considerando que minha primeira gerência no Banrisul aconteceria a menos de 30 Km de distância, na vizinha cidade de Machadinho. Nem essa proximidade, no entanto, era capaz de arrefecer meu apego à cidade onde nasci, vivi minha infância e adolescência, casei, vi minhas filhas nascerem e onde participei ativamente das principais atividades e entidades locais.
Saí de lá em 13 de Janeiro de 1997.
Poucos dias depois, minha família me acompanharia naquela que seria mais uma das 14 mudanças que contabilizei após o casamento.
Lembro perfeitamente que ao entrar no carro para acompanhar o caminhão que levava meus pertences, voltei o rosto para trás, contemplei a pequena casa que havíamos construído para fugir do aluguel e que mal havíamos terminado de pagar e murmurei, meio choroso, para mim mesmo: "20 anos. Em 20 anos eu volto."
Demorei para me acostumar a não estar mais morando na minha terra. Todos os finais de semana eu juntava filhas e esposa e rumava para Paim Filho. Entre feliz pela nova condição financeira e triste por não estar mais lá, fui deixando as coisas acontecerem.
E a roda foi girando.
De Machadinho, onde fiquei por 2 anos e meio, fui para Cacique Doble, onde fiquei 4 anos. Mais 4 anos em São José do Ouro, 2 anos em Sananduva, 3 anos em Tapejara, 2 anos em Veranópolis e, finalmente, 3 anos em Nova Prata, onde acabei me aposentando, em Março deste ano.
De 1997 a 2017 passaram-se exatamente...20 anos.
Não parece que profetizei meu retorno?
Acabei não retornando exatamente para minha terra natal, como era meu desejo inicial.
No entanto, o que eu mais queria era voltar para a minha região de origem .
A escolha de Machadinho se deu por circunstâncias ocorridas ao longo do tempo.
Como eu disse, a roda girou.
Minhas filhas cresceram, formaram-se, casaram.
Uma delas mora em Machadinho há vários anos. E é mãe do meu primeiro neto. a outra, mora em Campos Novos, pertinho daqui. Os pais da minha esposa moram no interior de Machadinho. E a cidade virou atração turística, com as Thermas. Além disso, o asfalto chegou. Hoje, com 20 minutos posso estar em Paim Filho, se quiser. Tenho ido com menos frequência pelo fato de minha família ter se mudado para a região da serra.
Mas o melhor de tudo é poder estar de volta à nossa pequena região no finalzinho dos Campos de Cima da Serra.
Cultivamos aqui um jeito de viver todo nosso, com nossos divertimentos, nossos anseios, nossos orgulhos, que, salvo pequenas peculiaridades de cada cidade, são muito parecidos.
Somos uma população alegre, que interage constantemente. Uma festa de capela em Cacique Doble recebe visitantes de Paim, São José, Machadinho... Disputamos jogos de futebol, bocha, bolão com as cidades vizinhas...Conhecemos pessoas de todas as cidades e quando morre alguém, não raro a comoção atinge a região toda...Pessoas de São José são donas de terras em Machadinho, pessoas de Machadinho possuem terras em Maximiliano de Almeida, gente de Maximiliano tem terras em Paim Filho...
Somos solidários, muito religiosos, receptivos, acolhedores.
Já fomos chamados inapropriadamente de "Volta da Fome", fruto de um tempo em que o asfalto mais próximo ficava em Lagoa Vermelha. Não é mais assim. Há muito tempo. Hoje sabemos o quanto é rica nossa microrregião. Seja na economia, seja na tranquilidade, seja na amizade, seja na religiosidade. Ou na nossa fala sui generis, nas nossas expressões regionais. Ou na felicidade que reina soberana nesse cantinho do Brasil.
Tinha como eu não retornar?